12 – O SOFRIMENTO E A VITÓRIA DE CRISTO
(17-05-2017)
Introdução: No texto anterior Pedro orientou os crentes a como se comportarem diante do sofrimento, isso é, sendo corretos, não revidarem ou se vingarem, mesmo quando sofrerem injustamente e a se alegrarem quando sofrerem por causa de Cristo. Além disso, que deveriam estar prontos para defenderem sua fé com mansidão e respeito.
Para justificar o motivo dessa orientação, agora o apóstolo nos fala do sofrimento que o próprio Jesus suportou e mais do que isso, também venceu de forma triunfante e retumbante.
Texto Bíblico: 1 Pedro 3:18-22
18 Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus. Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito,
19 no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão
20 que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água,
21 e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês — não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus — por meio da ressurreição de Jesus Cristo,
22 que subiu ao céu e está à direita de Deus; a ele estão sujeitos anjos, autoridades e poderes.
1 - O SOFRIMENTO DE CRISTO
“Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus.” (1 Pedro 3.18a)
Quando o cristão se vê obrigado a sofrer cruel e injustamente por causa de sua fé, só está percorrendo o mesmo caminho que seu Senhor e Salvador percorreu.
Com respeito à morte vicária de Cristo, destacamos três pontos importantes.
A SUA EFICÁCIA. Pois também Cristo sofreu pelos pecados uma vez por todas,... (3.18a). Cristo foi nosso exemplo na submissão e agora é nosso exemplo no sofrimento. O sofrimento de Cristo, porém, é único e sem paralelos. O sofrimento de Cristo é vicário. Sua morte fez cessar todos os sacrifícios judaicos. Os sacrifícios sacerdotais no templo tinham de ser repetidos diariamente, mas Cristo fez o sacrifício perfeito e definitivo ao oferecer-se a si mesmo (Hb 7.27).
O CORDEIRO DE DEUS QUE TIRA O PECADO DO MUNDO.
JESUS CANCELOU O ESCRITO DE DÍVIDA QUE ERA CONTRA NÓS e
DESPOJOU OS PRINCIPADOS E POTESTADES (CL 2.14,15).
A SUA FORMA.... o justo pelos injustos... (3.18b). Mueller observa que estamos aqui numa situação em que toda a humanidade, sem exceção, está colocada de um lado, e Cristo está posto sozinho, do outro. Cristo, que é justo, tomou sobre si os pecados do povo injusto.
Paulo afirmou aos Romanos: “Como está escrito: Não há um justo, nenhum sequer” (Romanos 3.10). O sofrimento de Cristo foi por nossa causa, e o mistério é que aquele que não merecia sofrer padeceu em nosso lugar aquilo que nós teríamos de sofrer.
O SEU PROPÓSITO ... para conduzir-nos a Deus... (3.18c).
LIVRE ACESSO AO PAI: O propósito da morte de Cristo foi reconciliar-nos com Deus, abrindo-nos o portal da graça e dando-nos livre acesso ao Pai (Rm 5.2; Ef2.18; 3.12).
O CAMINHO: Com sua morte, ele inaugurou para nós um novo e vivo caminho até Deus. Ele é caminho que nos leva ao Pai. Jesus é a porta de acesso ao trono da graça.
ACESSO À GRAÇA: Mediante Jesus Cristo temos acesso à graça (Rm 5.2). Mediante ele temos acesso a Deus, o Pai (Ef 2.18). Através dele temos a segurança de chegar confiadamente a Deus (Ef 3.12). Nas cortes reais havia um funcionário chamado prosagogeus, “o introdutor”, o que dá acesso; sua função era decidir quem seria admitido na presença do rei e a quem se devia impedir que chegasse até ele. Se poderia dizer que ele tinha as chaves de acesso. Assim, Jesus Cristo, mediante o que ele fez, é quem leva os homens à presença de Deus, e quem outorga o acesso a Deus.
2 - A VITÓRIA DE CRISTO (3.18B-22)
A passagem bíblica que temos diante de nós é uma das mais difíceis de interpretar em toda a Bíblia. Kistemaker chega a dizer que não podemos esperar unanimidade na interpretação dessa passagem; não temos como chegar a um acordo. Vamos destacar alguns pontos.
CRISTO MORREU E RESSUSCITOU. ... Ele foi morto no corpo, mas vivificado pelo Espírito, (3.18c). Cristo morreu e ressuscitou. Venceu a morte e trouxe à luz a imortalidade. A expressão “vivificado no espírito” se relaciona à esfera espiritual da existência de Cristo após a ressurreição (Jo 10.18; Rm 6.4; 8.11)”.
CRISTO PROCLAMOU PUBLICAMENTE SUA VITÓRIA. no qual também foi e pregou aos espíritos em prisão que há muito tempo desobedeceram, quando Deus esperava pacientemente nos dias de Noé, enquanto a arca era construída. Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, (3.19,20).
R. C. Sproul, renomado apologista cristão, diz que esta passagem provoca uma série de perguntas preliminares:
- Que espírito está em foco aqui, o espírito humano ou o Espírito Santo?
- Quem são esses espíritos em prisão?
- O que essa prisão indica e onde fica?
- Quando essa pregação aconteceu?
- Por que essa pregação foi necessária?
Cada uma dessas perguntas tem respostas diferentes segundo diferentes estudiosos da Bíblia. Na verdade, este é um dos textos mais difíceis de interpretar em todo o Novo Testamento. Não há consenso entre os estudiosos acerca de seu significado.
Alguns indivíduos têm usado o texto como pretexto para justificar a herética ideia do purgatório bem como da salvação universal.
Kistemaker afirma que, se tomarmos o pronome relativo qual como relacionado àquilo que o antecede imediatamente, entenderemos que se refere ao Espírito Santo. Por meio do Espírito Santo, depois da ressurreição, Jesus Cristo “foi e pregou aos espíritos em prisão” (3.19b). Esse é o pensamento de Calvino. Também podemos relacionar a expressão no qual com a palavra espírito sem letra maiúscula. Se interpretarmos a frase nesse sentido, seu significado é, na verdade, “em estado ressurreto”. O pronome relativo, nesse caso, está relacionado ao estado espiritual de Cristo após a ressurreição.
Nosso entendimento é que esses “espíritos em prisão” não poderiam ser espíritos humanos. Isso porque não há salvação depois da morte. Então, essa proclamação foi feita aos anjos caídos. Sendo assim, não foi uma proclamação para redenção, uma vez que não há salvação para anjos caídos. O termo traduzido por “pregou” significa, simplesmente, “anunciou como arauto, proclamou”. Logo, essa proclamação não se deu no período entre a morte e a ressurreição de Cristo, pois em nenhum lugar as Escrituras nos informam que Jesus desceu ao inferno.
Na busca do correto entendimento da passagem, muitas interpretações já foram publicadas. As cinco mais conhecidas são apresentadas a seguir.
1º - CRISTO DESCEU AO INFERNO – É a posição de Clemente de Alexandria (por volta do ano 200 d.C.) Ele ensinava que Cristo foi ao inferno em espírito proclamar a mensagem da salvação às almas dos pecadores que lá estavam presas desde o dilúvio.
PROBLEMA: Essa posição de Clemente fica comprometida por duas razões óbvias:
- As Escrituras nada dizem sobre o aprisionamento de almas condenadas por Deus
- Nem sobre a possibilidade de conversão após a morte.
2º - CRISTO PREGOU ATRAVÉS DE NOÉ – Era a posição de Agostinho. (por volta de 400 d.C.) O Cristo preexistente proclamou a salvação por intermédio de Noé ao povo que viveu antes do dilúvio.
PROBLEMA:
- Essa posição é um desvio das palavras Pedro que fala do Cristo que foi morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito (3.18b).
3º - CRISTO FOI LIBERTAR OS JUSTOS - Posição do cardeal Roberto Belarmino (na última metade do século 6 d.C.) Cristo foi libertar as almas dos justos que se arrependeram antes do dilúvio e que tinham ficado no limbo, ou seja, no lugar entre o céu e o inferno, onde, segundo Belarmino, ficavam as almas dos santos do Antigo Testamento.
PROBLEMA: A interpretação de Belarmino foi amplamente rejeitada pelos protestantes:
- As Escrituras ensinam que os justos do Antigo Testamento estão no céu (Hb 11.5,16,40; 12.23).
- O princípio é que a obra de Cristo é aplicada por Deus tanto para trás com para frente, isto é, os crentes do Antigo Testamento confiaram na promessa futura do Messias; nós confiamos no cumprimento da promessa.
4º - CRISTO PREGOU AOS ANJOS CAÍDOS - Posição de Friedrich Spitta (última década do século 18 ) Depois de sua morte e antes de sua ressurreição, Cristo pregou aos anjos caídos, também conhecidos como “filhos de Deus” que, no tempo de Noé, haviam se casado com as “filhas dos homens” (Gn 6.2; 2Pe 2.4; Jd 6).
PROBLEMA:
- A posição bíblica mais consistente é que “os filhos de Deus” se referem aos descendentes de Sete que mantiveram sua integridade, e “as filhas dos homens” se referem às descendentes da linhagem de Caim, que estavam cheias de corrupção.
- A ideia de relacionamento sexual entre anjos e mulheres não tem nenhuma sustentação bíblica. Jesus afirmou que os anjos não se casam nem se dão em casamento (Mt 22.30). Logo, é absolutamente improvável que os anjos caídos, que são espíritos, se tenham casado e mantido relações sexuais com mulheres.
5º - CRISTO PROCLAMOU SUA VITÓRIA – Essa é a posição contemporânea.
O Cristo ressurreto, quando ascendeu aos céus, proclamou aos espíritos em prisão sua vitória sobre a morte. O Cristo exaltado passou pelo reino onde são mantidos os anjos caídos e proclamou seu triunfo sobre eles. A Bíblia fala que os anjos de Deus e os demônios habitam nas regiões celestes (Ef 6.12; Cl 2.15). - Francis Schaeffer ilustra isso com uma casa de dois andares. O primeiro é o andar onde vivemos. Aqui é o mundo visível. O segundo andar, as regiões celestes, é o mundo espiritual invisível, onde estão os seres angelicais. Cristo proclamou sua vitória aos seres angelicais nessas regiões celestes.
- Essa posição se encaixa com o texto de Colossenses 2.15: Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz. E, despojando os principados e potestades, os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo. Cristo expõe “os principados e potestades” derrotados na cruz.
- Após a sua morte Jesus foi para o céu e não para o inferno. “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito” (Lc 23.46). Isto significa que o Senhor foi diretamente para o céu. Também, para um dos ladrões crucificados com Ele Jesus respondeu: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso” (Lc 23.43).
3 - CRISTO INSTITUIU O BATISMO
Nela apenas algumas pessoas, a saber, oito, foram salvas por meio da água, 21 e isso é representado pelo batismo que agora também salva vocês — não a remoção da sujeira do corpo, mas o compromisso de uma boa consciência diante de Deus — por meio da ressurreição de Jesus Cristo, (3.20b,21).
Mais uma vez Pedro muda de assunto. Agora, passa a falar sobre o batismo. Destacamos aqui quatro pontos para nossa reflexão.
1. O HISTÓRICO. Pedro evoca a história do dilúvio. Nesse tempo, enquanto
Noé preparava a arca, tornou-se o pregador da justiça (2Pe 2.5). A população do mundo pereceu, e apenas oito pessoas foram salvas, através da água. A mesma água que afogou as multidões fez a arca boiar. A família de Noé entrou na arca e deixou para trás um mundo de iniquidade. Antes que o dilúvio de perversidade desse fim à família de Noé, Deus os salvou e deu continuidade à raça humana.279
2. O SÍMBOLO. O livramento de Noé das águas do dilúvio é visto como uma prefiguração e um símbolo salvífico do batismo. Concordo com Kistemaker quando ele diz que o texto pressupõe uma semelhança entre o dilúvio e o batismo, ou seja, da mesma forma que as águas do dilúvio limparam a terra da perversidade humana, assim também a água do batismo indica a purificação do ser humano dos pecados. Da mesma forma que o dilúvio separou Noé e sua família do mundo perverso da época, assim também o batismo separa os crentes do mundo perverso de nossos tempos. O batismo, portanto, assemelha-se ao dilúvio.
3. O SIGNIFICADO. O batismo não salva nem a água do batismo purifica. O batismo é um símbolo do sangue purificador de Cristo e o do lavar regenerador do Espírito. O ensino romano acerca da regeneração batismal não tem amparo nas Escrituras. O batismo não opera por si mesmo. O batismo não faz de um pagão um cristão. A Palavra de Deus é clara: Não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (Tt 3.5). Somos salvos pela morte expiatória de Cristo na cruz e por sua ressurreição (Rm 6.4). Pedro deixa claro que o sacramento do batismo em si mesmo não é eficaz para remover a imundícia da carne.
4. O INSTRUMENTO. Pedro diz que a salvação recebida e testemunhada publicamente no batismo nos é concedida por meio da ressurreição de Cristo. A ressurreição de Cristo é o amém de Deus Pai ao grito de triunfo de seu Filho na cruz: “Está consumado!”. Um Cristo morto seria incapaz de salvar. A igreja não adora o Cristo que esteve vivo e está morto, mas o Cristo que esteve morto e está vivo. O apóstolo Paulo chega a dizer que, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé (1 Co 15.14). Sem a ressurreição, o batismo não teria nenhum valor.
4 - A VITÓRIA DE CRISTO EM GLÓRIA
“que subiu ao céu e está à direita de Deus; a ele estão sujeitos anjos, autoridades e poderes.” (1 Pedro 3.22)
CRISTO ASCENDEU AO CÉU: O qual, depois de ir para o céu... (3.22a).
Jesus Cristo veio do céu, encarnou- se, viveu, morreu, foi sepultado, ressuscitou e voltou ao céu. Sua ascensão pública (Lc 24.50,51; At 1.9-11) foi a garantia de que sua obra redentora foi vitoriosa.
CRISTO ESTÁ EXALTADO À DESTRA DE DEUS PAI. ... está à destra de Deus... (3.22b).
Jesus retornou ao céu para receber a maior honra imaginável. Ele está ao lado direito de Deus Pai. Tem em suas mãos o livro da história. Governa o universo e dirige a igreja (Ef 1.20; Hb 1.3; 10.12; 12.2). William MacDonald diz que o lugar onde Cristo foi colocado representa: 1. poder (Mt 26.64); 2. honra (At2.33; 5.31); 3. descanso (Hb 1.3); 4. intercessão (Rm 8.34); 5. preeminência (Ef 1.20,21); 6. domínio (Hb 1.13).
CRISTO ESTÁ REVESTIDO DE TODA AUTORIDADE. “...a ele estão
sujeitos anjos, autoridades e poderes” (3.22c).
O termo “anjos” inclui espíritos bons e maus. Tanto os anjos quanto os demônios são subordinados a Cristo. Essas mesmas potestades e poderes que hoje estão sob a autoridade de Cristo serão destruídas por ele em sua segunda vinda (ICo 15.24). Concluo, com as palavras de Mueller:
Cristo, após a sua vitória sobre estes poderes na morte (Cl 2.15) e sobre a própria morte na sua ressurreição, é recebido agora nas esferas celestes, de onde o universo é governado, e entronizado como regente do universo, à destra de Deus Todo-poderoso. Por todos os cantos do universo é feita a proclamação: “o reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap 11.15). E todas as forças cósmicas deste universo são colocadas debaixo de seus pés.
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